quinta-feira, 6 de outubro de 2016

A violinista


Minha família mudou recentemente para cá. Viemos do outro lado de São Paulo para essa pequena cidade do interior, pertinho de Minas Gerais,
Sinto saudade de ver o mar todos os dias e ainda não fiz nenhum amigo aqui, mas há algo nessa casa que me conforta.
Às vezes, quando cochilo no sofá à tarde, sonho com uma melodia doce, é sempre a mesma música e parece vir do quintal. Eu sou o único que a escuta.
Consigo cantarolá-la inteira de tanto que já a escutei. Quando estava muito cansado ou com saudades da antiga cidade, eu dormia apenas para ouvi-la tocando.
Já mencionei que é uma garota que toca? Uma das vezes, ainda sonolento, pude vê-la em pé no quintal, andando com os pés descalços sobre a grama. Ela estava de costas e só vi seu cabelo castanho balançando com o vento e o violino em suas mãos.
Foi a única vez que a vi e foi suficiente para tocar meu coração. Quanto mais eu escutava sua música em meus sonhos, mais a desejava. Mas como ter alguém que existe somente nos nossos sonhos?
Um dia, andando pela praça, percebi uma movimentação perto do coreto. Curioso, fui ver do que se tratava. A apresentação começou antes mesmo que eu estivesse perto o suficiente para ver quem tocava. A minha tão conhecida melodia começou a tocar. Meu coração disparou, assim como meus pés em direção à multidão.
Eu reconheceria aqueles cabelos esvoaçantes em qualquer lugar. Ela estava ali, de frente para mim, tocando seu violino. Esperei até o final e quando ela desceu do coreto fui me apresentar.
Conversamos por horas sem fim e descobri que ela morou na mesma casa que eu e foi ali que se apaixonou pela música com seu avô. Uma parte da sua alma ficara para trás, na casa, após a morte dele.
E foi essa parte que se ligou com a minha e fez eu me apaixonar perdidamente pela doce melodia dos meus sonhos.