quinta-feira, 4 de julho de 2013

Reminiscências...

Reminiscências...


Estava cansada de empacotar as coisas para a mudança.
Sentei na minha cama e olhei em volta, tanta bagunça, tanta coisa ainda por fazer. Uma caixa esquecida em cima do armário me chamou a atenção. Estava cheia de pó, mas continuava sendo bonita, com todas as suas flores amarelas e laranjas.
Peguei-a e a coloquei no chão. Me espreguicei e sentei ao lado dela, pronta para descobrir o que havia dentro. Abri sua tampa, e vi inúmeras lembranças esquecidas há anos ali dentro.
Aquela era a minha Caixa de Lembranças. Como pude esquecê-la?
No topo estavam vários origamis que fiz com minhas amigas. Sorri.
Guardei cada um deles, para lembrar dos bons momentos, das risadas, das amizades verdadeiras. Coloquei eles ao lado da tampa, e parti para a próxima lembrança.
Um relógio de bolso, um desejo que sempre quis e ganhei quando adolescente, por obra do destino. Foi a única oportunidade que apareceu de comprar, e minha mãe não hesitou por um segundo. Abri-o, vi que estava parado, havia anos que estava parado. Ele simbolizava tudo o que estava naquela caixa. O passado estava preso ali, e o tempo não passava para aquelas lembranças.
O próximo da fila foi uma carta e um cartão. Antigos romances, que só continuam vivendo naquelas cartas, pois não sobrou mais nada daqueles sentimentos em mim. Reli-os, lembrei de certos momentos, senti o perfume que o cartão ainda carrega. Coloquei-os de lado.
Partes de um caderno contendo um resumo enorme e fiel de um filme que eu adorava. Trabalho de escola. Nunca tive coragem de jogar fora. Li-o do começo ao fim, e consegui rever cada parte do filme na minha memória. Fazia muito tempo que eu não lembrava da existência desse filme. Ri da minha letra e do jeito que eu já gostava tanto de escrever.
Encontrei momentos de cumplicidade escritos em apostilas da escola, declarações de amor, rabiscos, desenhos, cartões de aniversário.
Também encontrei lembranças de pessoas que um dia amei, e hoje desprezo.
E lá no final da caixa, escondido e amassado, um avião de papel.
Está escrito o nome de quem fez, o ano, e uma palavra de amor. Tudo com a minha letra.
Minha memória falha, e não encontra a recordação da cena em que eu peguei esse avião.
Provavelmente esperei todo mundo sair da sala de aula para poder pegar sem ser vista.
Por quê?
Porque foi o menino de quem eu gostava que fez.
Quão patético isso é?
Guardar por anos, algo que um dia foi importante para mim, e somente para mim.
Apesar de ter sido rejeitada, eu ainda o guardei.
Olho para o avião de papel, e sorrio com carinho da garota que fui.
Apaixonada, ingênua, boba. Também lembro de ter sido cruel.
A vida passa. O tempo passa, as coisas ficam para trás. Não podemos voltar no tempo.
O importante é o hoje. O agora.
Ele é quem importa. O que eu posso fazer hoje para me deixar feliz? Para fazer as pessoas que eu amo felizes?
Foi naquele dia, que um simples aviãozinho de papel me ensinou algo importante.
Guardei várias coisas de volta na caixa, e outras joguei fora. Coloquei a caixa no mesmo lugar de antes.
Liguei para o meu namorado, fui aproveitar o agora.


Se copiar a estória, não esqueça de citar a autora (Lívia)!