quinta-feira, 2 de junho de 2011

Uma visita inesperada

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Uma visita inesperada
Um conto para o Takemi. Inspirei-me em nossas poucas conversas...
Rodrigo
Eu estava sentado sozinho como sempre. Na mesma mesa de sempre. Tomando o mesmo café de sempre. Na mesma padaria de sempre. A minha vida continuava na mesma rotina, e eu já estava cansado de tudo.
Foi quando a vi entrar, o rosto sério, o passo firme, dirigiu-se até o balcão, pediu algo que não pude ouvir. A garçonete a atendeu com a mesma graça que atendia todos os clientes, mas aquela ali era nova. Eu tomava o meu café no mesmo horário todos os dias, conhecia todos os clientes, mas definitivamente era a primeira vez dela.
Ela pegou seu pacote e olhou em volta. Todas as mesas já estavam ocupadas, a minha era a única que possuía uma cadeira vazia. Ela me olhou com a cara fechada, deu as costas e saiu.
Voltei ao meu café, mas o pensamento daquela garota não saiu da minha mente.
No dia seguinte, lá estava eu de novo. O movimento estava menor, era sexta-feira. Para a minha surpresa, aquela garota entrou afobada e foi até o balcão, e novamente saiu com o pacote.
Por três meses foi assim. Eu estava sempre lá, e a via quase todo dia. Raramente ela sentava em algum lugar, apenas olhava em volta e saía.
Um dia, cheguei atrasado, e depois de pegar o meu café, ao olhar para a minha mesa, lá estava ela. Sentada, comendo um pão de queijo e lendo um livro. Cheguei perto:
-Posso sentar aqui?
-Claro. –Ela me respondeu com um sorriso cativante.
Sentei junto a ela, e ficamos em silêncio. Mas aquela era a minha chance, se não conversasse com ela naquele instante, nunca mais o faria.
-Eu sempre a vejo aqui.
Ela me olhou nos olhos.
-Acho que peguei a sua mesa, não é? Desculpe, mas é que aqui é mais afastado, e é bom para ler.
-Ah, não se preocupe. Não tem problema nenhum. O que você está lendo?
-Um livro da Agatha Christie.
-Gosta de suspense?
-Adoro. Me estimula bastante ler as aventuras do Poirot.
-Eu percebi que está sempre com uma mochila, ou com cadernos na mãos. Está estudando o quê?
-Estou fazendo cursinho.
-Ah! Que curso você quer?
-Medicina. –Ela deu com os ombros.
-Medicina é muito interessante. Boa escolha, provavelmente adorará quando passar no final do ano.
-Ah, claro.
-Acha que não passará?
-Não é isso...Mas é difícil passar em uma faculdade pública, e eu não acho que esteja pronta.
-Você tem que estudar e se dedicar de coração. Mas você deve estar fazendo isso...
Ela apenas sorriu e baixou os olhos. Que fofa!
Continuei falando, mas ela não me respondeu tanto. Apenas concordava e sorria, ou respondia uma frase ou outra.
-Desculpe, você estava lendo e eu estou aqui falando sem parar.
-Não se preocupe, o livro posso ler em qualquer outro momento, conversar com você está interessante.
Eu apenas sorri, e voltei a falar. Alguns minutos depois, ela olhou para o seu relógio de pulso, e com um sorriso, declarou:
-Eu preciso ir agora.
-Claro, claro. Foi um prazer conversar com você.
-Até outro dia, então.
-Até.
Ela pegou seus livros e saiu. Assim que a vi desaparecer na rua, percebi que não perguntei seu nome.
Passou-se uma semana até ela aparecer novamente, pegou o seu pacote, e antes de sair, apenas me deu um aceno de cabeça e um sorriso contido.
No dia seguinte, eu estava lendo meu jornal alheio à tudo, quando de repente, percebi que alguém sentou na cadeira na minha frente, e estava respirando rápido. Baixei o jornal, e me deparei com a mesma garota, mas que estava quase enxarcada.
-Olá.
-Oi, posso sentar aqui? –Ela perguntou ainda afobada.
-Claro. Está chovendo muito forte?
-Sim, e eu estou sem guarda-chuva.
-Não há nenhum lugar para comprar aqui por perto?
-Não, mas tudo bem. Só voltarei de noite para casa, se ainda estiver chovendo, não terei problema em me molhar.
-Eu... Eu posso te dar uma carona se você quiser, é claro.
-Ah, não seria estranho?
-Não. Aliás, meu nome é Rodrigo.
-Ah. –Ela corou. –Meu nome é Daniela.
-E aonde você mora?
-Na zona oeste. Mas não se preocupe, eu vou de metrô mesmo.
-Não, não. Eu moro na zona norte, mas não há nenhum problema em te dar uma carona.
Ela me olhou um pouco desconfiada, mas sorriu ao concordar:
-Está bem, se não houver nenhum problema.
-Eu saio às dezenove horas do meu trabalho, e você?
-Dezenove e trinta.
-Posso te esperar aqui mesmo, então?
-Aqui já estará fechado, mas pode me esperar no bar aqui da frente.
-Está combinado.
-Obrigada.
-Não é nada.
Ela comeu o que havia comprado, e conversamos. Hoje ela já estava um pouco mais falante.
Dez minutos depois ela se levantou:
-Dezenove e meia no bar da frente, certo?
-Certo. –Respondi.
Ela sorriu e saiu.
Voltei para o meu trabalho, e a esqueci. Só lembrei quando pisei na rua. Me dirigi até o bar, entrei e a esperei. Ainda chovia.
Quarenta minutos depois ela entrou correndo, e molhada. Ela me avistou em uma das mesas mais afastadas, e andou na minha direção.
-Eu sinto muito, me atrasei dez minutos. Desculpe por fazê-lo ficar me esperando.
-Não se preocupe com isso. Vamos?
-Sim.
Corremos até o carro. Ela me disse aonde morava, e eu a levei até lá. Era um apartamento aparentemente simpático. Ela me agradeceu, e desceu do carro.
Fui para casa, tomei um banho e caí na cama, apenas querendo esquecer aqueles lábios rosados e, o perfume dos seus cabelos.
No dia seguinte, ela sentou na minha mesa, e conversamos bastante.
Isso durou quase um mês, até que ela me perguntou se eu poderia dar uma carona para ela naquele dia.
-Sem problema, eu dou uma carona sim.
-Desculpe pedir em cima da hora, mas é que eu tive uns problemas em casa, e não quero voltar tão cedo.
-E tem medo do metrô?
-Tenho. Sei que parece bobagem porque tenho dezenove anos, mas simplesmente tenho medo.
-Não é bobagem, eu com os meus vinte e seis anos também não sinto muita segurança em andar em certos lugares.
-Vinte e seis?
-Não pareço tão velho assim? –Falei rindo.
-Na verdade, não. –Ela riu. –Deve ser o seu cabelo loiro.
-E não esqueça dos meus olhos azuis! –Ambos rimos.
-Mas eu chutaria uns vinte e três.
-Obrigada. E você também é novinha.
-Mas voltando ao assunto... Até que horas você pode me esperar?
-Até as vinte, de preferência.
-Vinte horas está bom.
-No mesmo bar da frente?
-Exato.
-Está bem.
-Eu já vou indo, depois nos vemos.
-Até depois, Dani.
Ela me deu um sorriso, e saiu.
Voltei ao trabalho, e depois que saí, fiquei conversando com o pessoal que trabalhava comigo até dezenove e meia. Fui até o bar, e pedi algo para beber.
Com o tempo, o bartender continuou me servindo, mas não reparei no que era, só continuei bebendo, e quando percebi, eu já havia tomado vodka e whiskey o suficiente para me fazer falar enrolado.
Daniela chegou, e me encontrou na mesma mesa da última vez, mas eu estava bêbado.
-Rodrigo? O que aconteceu?
-Descuuuuuuuuuuuuuuuuulpe. Acho que eu beeebiiiii.
-Tudo bem, eu dirijo. Aonde você mora?
-Não, não. Tenho que te levar.
-Eu posso pedir um táxi.
-Nãooooo, eu levo.
-Você pode dormir lá em casa, por causa da bebedeira.
Eu apenas ri maliciosamente, mas ela me olhava séria.
-Tááááá.
Ela me acompanhou até o carro, e dirigiu até o seu apartamento.
Daniela
Estacionei o carro na garagem, e o ajudei a chegar até o apartamento. Deixei-o sentado em uma cadeira enquanto transformei o sofá em uma cama.
Droga! O que eu estava fazendo? Eu nem o conheço tão bem assim para oferecer o meu sofá para ele passar a noite. Se minha irmã chegar de viagem hoje, eu estou ferrada. Meus pais farão o maior escarcéu e me mandarão de volta para aquela cidadezinha no meio do nada aonde eles moram.
Rodrigo já estava quase desmaiando, pelo menos ele era um bêbado calmo. Ele se apoiou em mim, e o levei até o sofá. Ele sentou, ajoelhei na sua frente e tirei seus sapatos, e a camisa molhada. Já estava com uma camiseta seca nas mãos quando ele me puxou para perto dele. Pude sentir seu corpo quente tocando o meu e corei instantaneamente.
-Rodrigo, o que está fazendo?
Ele aproximou o seu rosto do meu.
-A sua boca é tão atraente, Dani.
Ele estava tão perto... Ele olhou a minha boca com tanta vontade... Mas eu não poderia, ele estava bêbado... Eu podia sentir tão bem o toque da sua pele...
Impulsivamente, puxei seu rosto até o meu e, o beijei.
O gosto da bebida não era um dos melhores mas, ele me beijou com tanta intensidade que eu quase esqueci quem ele era.
E de repente, ele me soltou e, com um suspiro caiu na cama, em um sono profundo.
Fiquei parada olhando-o, com o rosto em brasas, e a mão na boca.
Por Deus, o que eu acabei de fazer?
Depois de cinco minutos, levantei, pendurei a camisa, tomei um banho quente, e dormi.
Acordei tarde no dia seguinte, era sábado e algum celular tocou às dez e meia da manhã. Levantei e me arrastei até a sala. Rodrigo estava de costas para mim, sentado no sofá, falando ao telefone. Eu esperei na porta do meu quarto até ele terminar, e tudo o que eu escutei me chocou:
-Sim, sim. Sinto muito, querida. Eu deveria ter contado que ficaria na casa de um amigo, é que eu acabei bebendo mais do que deveria. Sinto muito. Sim, claro, eu vou buscar a sua mãe no aeroporto. Claro, tenho que ser um ótimo genro. Sim, sim, desculpe de novo. Te amo. Beijos.
Ele desligou e respirou fundo.
Abri mais a minha porta para fazer barulho, e ele se virou e me olhou nos olhos.
-Sinto muito por incomodá-la.
-Não se preocupe, só te dei uma cama e um lugar para passar a noite, não aconteceu nada. –Respondi um pouco apreensiva.
-Eu só me lembro de entrar no carro.
-Hum, eu ia trocar a sua camisa, mas você acabou dormindo assim que tirou a molhada.
Ele apenas riu.
-Não se preocupe, não fiquei gripado nem nada.
-Ótimo! –Eu sorri. –Vou preparar algo para comermos e...
-Ah, não será preciso. Tenho que resolver alguns assuntos.
-Ah.
-Posso devolver a camiseta depois?
-Claro.
Ele vestiu os sapatos, pegou a camisa quase seca, me deu um beijo no rosto, e foi embora.
Afundei no sofá, e fiquei o dia inteiro olhando para a varanda, pensando...
Fiquei uma semana sem aparecer na padaria, eu não tinha coragem de vê-lo, não depois do que fiz. Mas ele estava com a minha camiseta, e eu precisava pegá-la de volta.
Finalmente, depois da aula eu fui até lá. Entrei, pedi um pão de queijo, e sentei na mesma mesa que ele.
-Boa tarde, Rodrigo.
-Boa tarde, Dani. Está sumida, hein?
-Estava ocupada.
-Aqui está a sua camisa. –Ele a entregou dentro de uma sacola.
-Obrigada.
Conversamos sobre outras coisas, mas eu já estava na hora de ir, e precisava acabar com aquilo. Respirei fundo e perguntei:
-Você é casado?
Ele ficou alguns segundos parado olhando para mim.
-Sim.
-Por que não usa aliança?
-Não gosto. Por quê? Da onde veio essa pergunta?
-Eu gosto de você, ou eu acho que gosto.
Ele não respondeu.
-Naquela noite na minha casa...
-Rodrigo! –Alguém chamou.
Ele olhou para alguém atrás de mim e sorriu, mas um sorriso preocupado.
-Nós nos beijamos antes de você apagar, mas quero que você saiba que foi sem querer, e que além de não acontecer novamente, eu não aparecerei mais aqui. –Cuspi as palavras com pressa.
Ele me olhou atento.
-Não aparecerá mais aqui? Mas...
-Adeus, Rodrigo. Obrigada por todas as conversas que tivemos até hoje. –Levantei, dei meia volta, e passei por uma mulher elegante e de olhos alegres. Quando cheguei na porta, olhei para trás, a mulher estava sentada no mesmo lugar onde eu costumava sentar. Rodrigo me olhava, apenas sorri e acenei.
Fui embora, e nunca mais entrei naquela padaria. Encontrei com Rodrigo algumas vezes depois disso, mas passávamos um pelo outro como se não nos conhecemos...


Se copiar a estória, não esqueça de citar a autora (Lívia)!
Ps: talvez eu reescreva esse conto com um final mais caprichado.

2 comentários:

Shana disse...

Eu acho que eles deviam ter fugido juntos pro Paraguai. u.u

Lívia F. disse...

Hahahaha
Eu também acho que eles deveriam ter fugido juntos!